No dia 16 de janeiro de 2025, bolsistas do PIBID-História-UFMG visitaram o Museu de Artes e Ofícios (MAO), localizado na antiga Estação Ferroviária de Belo Horizonte, MG. O grupo foi acompanhado pelo Prof. Alexandre Miranda (FaE/UFMG), coordenador do projeto de extensão "Trem na Escola", voltado para a análise da relação entre educação escolar e o patrimônio cultural ferroviário, com vistas a produção de materiais didáticos sobre educação patrimônial e história ferroviária. O objetivo da visita foi conhecer o museu, com especial atenção à memória ferroviária presente nas edificações que o compõem e que estão presentes no território em seu entorno: a Praça Rui Barbosa, popularmente conhecida como Praça da Estação, e a Rua Sapucaí.
Antiga Estação Ferroviária de Belo Horizonte, atual Museu de Artes e Ofícios,
e Praça Rui Barbosa, popularmente conhecida como Praça da Estação
O MAO foi criado em 2005 a partir de uma Parceria Público-Privada entre o Governo Federal e o Instituto Flávio Gutierrez (IFG). O acervo do museu foi composto a partir da coleção privada de artefatos coletados no estado de Minas Gerais por Flávio Gutierrez, um dos proprietários da construtora Andrade Gutierrez. Trata-se de artefatos variados, ligados ao trabalho e a diferentes ofícios, como carpinteiro, ferreiro, sapateiro, barqueiro, vendedor ambulante, cirurgião-dentista, boticário, curtidor de couro, cachaceiro (produtor de cachaça), etc.
Este acervo foi organizado pelo IFG e cedido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O Governo Federal, por sua vez, cedeu a edificação da Estação Ferroviária de Belo Horizonte, que foi reformada para sediar o museu. Assim, o acervo encontrou um espaço para ser guardado, pesquisado e exibido. A estação ferroviária, que estava fechada, por sua vez, ganhou um novo uso como museu. E toda a Praça da Estação passou por uma reforma e revitalização, deixando de ser um grande estacionamento de automóveis e passando a ser reservada para pedestres. Isso deu origem a diversas manifestações culturais como o Bloco da Praia da Estação, um dos responsáveis pelo nascimento do atual Carnaval de Belo Horizonte.
Salão de entrada da Estação Ferroviária de Belo Horizonte - atual MAO
Carranca
Botica
O MAO apresenta ao visitante uma exposição de longa duração do seu próprio acervo que já está montada há quase 20 anos, sendo o carro-chefe do museu. O foco são trabalhos e ofícios não-industriais. O projeto expográfico é semelhante ao dos maiores museus pelo mundo, com expositores modernos e uma distribuição do acervo pelos amplos espaços das edificações. Em torno do museu, situa-se a Estação Central do metrô de Belo Horizonte, permitindo uma visualização da vida urbana do centro da cidade.
Costureira
Mesa de açougue no salão da antiga Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas, parte do MAO.
Como, na visita, o foco do olhar do grupo do PIBID-História-UFMG era o patrimônio cultural ferroviário, chamou à atenção o fato de o trabalho ferroviário não ser incorporado aos ofícios abordados pelo museu. A própria edificação - uma Estação Ferroviária - que foi reformada e adaptada para sediar o MAO, não é musealizada pelo mesmo. A edificação tornou-se mero espaço para a exibição de um acervo que não dialoga diretamente com a história ferroviária. As décadas de "encontros e despedidas" que ocorreram na plataforma da estação, as milhões de pessoas que passaram pelo salão, onde ainda encontra-se a bilheteria, parecem ter sido esquecidas pelo MAO. Outra questão problemática é a história do processo de acumulação do acervo, feito sem uma cuidado de se registrar a procedência de cada objeto, e por meios desconhecidos. Assim, temos uma exposição belíssima esteticamente, porém marcada por tensões e conflitos nos campos da museologia e do patrimônio cultural.
Atrás do MAO, situa-se a Rua Sapucaí, que atualmente está em processo de revitalização, com a retirada do tráfego de automóveis e a instalação de bancos e iluminação para o usufruto de pedestres. Nesta rua encontra-se o edifício que já foi sede da Companhia de Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), da Rede Mineira de Viação (RMV) e da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), e atualmente está sendo reformado para a implantação do Centro de Memória Ferroviária.
Rua Sapucaí em obras, com o Edifício-sede da EFOM, RMV e RFFSA, com uma locomotiva da EFOM,
também em obras para a implantação do Centro de Memória Ferroviária
A edificação que sedia o MAO - a antiga Estação Ferroviária de Belo Horizonte - é um lugar de memória relevante para a cidade e o estado de Minas Gerais, e o seu acervo exibido é extremamente significativo para a história das formas de trabalho praticadas durante os séculos de colonização e ocupação do território brasileiro. Em uma perspectiva crítica, compreendemos que as políticas e práticas de patrimônio são dinâmicas e marcadas pelas contradições presentes na sociedade como um todo. Assim, agradecemos ao MAO pelo trabalho de salvaguarda de importante parte do patrimônio cultural brasileiro, em especial, o patrimônio cultural ferroviário.
Prof. Alexandre Miranda (FaE/UFMG) e estudantes bolsistas do PIBID-História-UFMG:
Izabella Flores, Giovanna Rocha, Beatriz Guimarães, Gabrielle Freitas, Ingrid Santana, Bárbara Parzzanini, Anna Luiza Martins e Camilly Aguiar.
Prof. Pablo Lima (FaE/UFMG) e o grupo do PIBID-História-UFMG